Varejo de material de construção investe em lojas menores
Por Ana Luiza de Carvalho — De São Paulo | Publicado via Valor Econômico
Grandes redes também apostam em serviços ao consumidor e ampliação do comércio eletrônico pra driblar ano considerado ‘morno’.
Jordana Barros, da Telhanorte, diz que investimentos serão ampliados para algo “da grandeza de R$ 100 milhões” — Foto: Carol Carquejeiro/Valor
O varejo de material de construção e itens de decoração passa por uma desaceleração em 2023, após o salto de receita ocorrido na pandemia, quando o consumidor se voltou para melhorias dentro de casa. Para se adaptar ao novo momento, grandes redes como Telhanorte e Leroy Merlin apostam em lojas menores - que permitem a entrada em bairros e em novos mercados -, na prestação de serviços ao consumidor, como instalação de equipamentos, e na ampliação do comércio eletrônico.
De acordo com a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as vendas em volume de material de construção tiveram um recuo 3,3% no primeiro trimestre. Enquanto isso, o varejo como um todo registrou alta de 3,3%. Só em março, a retração foi de 5,1% no segmento, na comparação com igual período do ano passado.
“O objetivo é atender o consumo rápido, como uma troca de lâmpada”
— Flávia Barros
“De fato 2020 e 2021 foram anos espetaculares, era um esforço de venda menor e o que temos hoje é uma situação macroeconômica morna”, afirma Jordana Barros, diretora de operações da Telhanorte.
O retorno do programa habitacional Minha Casa Minha Vida pode ajudar a elevar as vendas do setor, mas o cenário ainda é difícil, já que a população alcançou níveis históricos de endividamento com os juros altos.
“Ao mesmo tempo que o programa Minha Casa Minha Vida tem um impacto positivo, embora não seja tão presente nas cidades em que atuamos, os fatores macroeconômicos, como os juros altos e a inflação, também impactam negativamente o negócio. Atualmente, ainda vemos um cenário desafiador, no qual a renda do nosso cliente continua apertada”, afirma o diretor-presidente da Quero-Quero, Peter Furukawa.
A companhia, que tem 535 lojas no Sul, Mato Grosso do Sul e São Paulo, afirma que no último ano iniciou um trabalho interno para controlar despesas e adaptar sua operação ao novo momento. A receita operacional líquida da rede somou R$ 561,7 milhões no primeiro trimestre, alta de 4% sobre um ano antes. Já as vendas no critério “mesmas lojas” (que comparam lojas abertas há pelo menos um ano) recuaram 2,5%. No primeiro trimestre de 2021, as vendas “mesmas lojas” saltaram 40,5%. Este ano, até março, a varejista abriu 56 novas lojas.
A Telhanorte, com 77 lojas no país, está apostando em inaugurações em novos formatos para capturar os clientes em outras oportunidades de consumo. A companhia, controlada pelo grupo francês Saint Gobain, vai abrir neste ano seis pontos de venda: quatro no modelo “home center compacto” e dois no formato que está chamando de “butique”. A versão compacta pretende oferecer o mesmo atendimento das megalojas, com produtos do estoque local e o restante do portfólio da rede acessível pela internet, dentro da própria unidade.
Com o modelo butique, a empresa pretende chegar em cidades onde não está hoje, como Americana e Bauru (SP). O diferencial deste formato, segundo Jordana, é a prestação de serviços de consultoria e apoio a profissionais envolvidos nas obras, como arquitetos.
Quem também aposta em unidades de menor porte é a Leroy Merlin, que abriu lojas “Express” nos bairros do Campo Belo e da Pompéia, na capital paulista. “O objetivo é atender o consumo rápido e as necessidades cotidianas, como uma troca de lâmpada ou uma pequena reforma de bairro”, afirma Flávia Barros, diretora de marketing da companhia.
A Leroy tem atualmente 45 megalojas, localizadas principalmente às margens de grandes rodovias, e pretende abrir 15 novas unidades até 2025, em formatos a serem definidos. Para este ano, a companhia iniciará operações em Salvador e em Natal. O Nordeste conta com lojas da rede nas capitais Fortaleza e Maceió.
A varejista registrou receita de R$ 8,4 bilhões em 2022 e espera crescer entre 5% e 10% neste ano. Flávia também diz que o cenário é de mais cautela neste ano, mas aponta “boas perspectivas para o Brasil” no médio prazo. “A gente reconhece que existem desafios pós-pandemia e já vínhamos revitalizando nossas lojas para ficarem mais modernas”, afirma
A rede francesa, assim como a concorrente Telhanorte, aposta ainda em um portfólio de serviços para fidelizar o cliente, como instalação das fechaduras eletrônicas vendidas nas próprias lojas. A Leroy também começou a testar neste ano a venda de projetos, indicando materiais e produtos de acordo com o espaço disponível no ambiente que o consumidor deseja reformar.
Outro foco da varejista para este ano é a ampliação do comércio eletrônico, que representava 3% do faturamento em 2019. O número atualmente está em 12% e, para o fim de 2025, a meta é que a participação alcance os 25%.
Na Telhanorte o objetivo é que o e-commerce responda por 10% da receita bruta. Jordana não releva o percentual atual, afirma apenas que é baixo.
Segundo a diretora, a empresa vai dobrar os investimentos totais no país este ano, em relação a 2022 - sem precisar o valor, ela menciona que será algo “da grandeza de R$ 100 milhões”. A expectativa da companhia é de que 2023 apresente um faturamento em patamar semelhante ao alcançando em 2022.
Questionada sobre a busca do grupo Saint-Gobain por compradores para a Telhanorte, como o Valor noticiou no fim do ano passado, Jordana afirmou que a operação “não está à venda” atualmente. Ela negou que haja uma premissa estratégica do grupo em focar suas atividades na área industrial. A executiva observou, no entanto, que o Saint Gobain está “sempre atento a oportunidades de mercado”, e que não está descartada a venda dos ativos caso uma eventual proposta seja considerada interessante.
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