Inteligência artificial na construção: 5 perguntas para especialista em tecnologia

Por KB!Com

Crédito: Grant Lemons/Unsplash 

Ao passo que o número de construtechs (startups desenvolvedoras de inovações para o setor) e proptechs (responsáveis por ferramentas que otimizam comercialização de imóveis) avança no país, as ferramentas digitais ganham mais espaço na construção civil, como o uso das realidades virtual e aumentada, metaverso e de metodologias como BIM nos projetos.

A edição 2023 do Mapa das Construtechs & Proptechs desenvolvido pela Terracota Ventures, empresa de venture capital referência na América Latina, apontou 1068 startups mapeadas no Brasil, crescimento de 11,8% em relação ao levantamento do ano passado.

É nesta esteira de inovação que um dos temas desponta como possível protagonista de uma transformação não apenas do setor, mas de várias atividades profissionais: a Inteligência Artificial (IA). O assunto é destaque nos canais de comunicação da FEICON neste mês.

O conceito é amplo e pode ser associado à capacidade de sistemas atuarem de forma inteligente, além da programação, ampliando possibilidades de aprimorar ainda mais projetos, minimizar riscos, otimizar custos e tempo e reduzir impactos ambientais.

Para entender mais sobre o emprego da IA e aplicações no setor da construção, a FEICON conversou com Luiz Henrique Ferreira, fundador e CEO da Inovatech Engenharia. Em cinco perguntas, o engenheiro civil traz sua perspectiva sobre o impacto da tecnologia nos projetos. Confira: 

 

1.A inteligência artificial está transformando diversos setores. O que significa o uso da inteligência artificial na construção civil e na arquitetura?

Luiz Henrique Ferreira - A construção civil é uma área que apresenta inúmeras oportunidades de ganhos de eficiência, pois é mundialmente reconhecida como um dos setores de menor produtividade.

Neste sentido, acredito que a inteligência artificial veio para revolucionar a produtividade humana em um contexto amplo e, por isso, tenho plena convicção de que o setor também será impactado. Entretanto, primeiramente, é importante lembrar que o produto final do nosso ramo de atuação é algo efetivamente construído, seja um edifício, uma ponte, rodovia ou hospital, e a IA não consegue substituir mão de obra, materiais e sistemas construtivos.

Desta forma, o uso na construção civil e arquitetura será menos abrangente do que em outras áreas onde o produto final é um texto ou imagem, como, por exemplo, diagnósticos médicos, processos judiciais, marketing, publicidade, etc. Vejo um futuro com o emprego de ferramentas tecnológicas para encurtar caminhos de projeto (onde o produto final é um documento com textos e imagens), para maximizar a eficiência na gestão de canteiro de obras através do tratamento de bancos de dados e também para prever o comportamento de edifícios ao longo dos anos, tornando-se importante alavanca para atingir os objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU e de ESG, melhorando a qualidade das moradias do nosso Brasil.

 

2.Como a tecnologia tem sido vista pelo mercado nacional? De que forma os profissionais têm se preparado para atuar com as ferramentas digitais?

Luiz Henrique Ferreira - O mercado nacional ainda está nos primeiros passos de conhecimento da tecnologia, o que tenho observado é o uso principalmente nas áreas de comercialização e vendas de empreendimentos, que reúnem uma grande quantidade de dados, processos basicamente documentais (imagens de venda, campanhas de marketing, contratos) e com muita demanda de mão de obra de corretores. A inteligência artificial vem como uma aliada para maximizar a produtividade no processo de vendas, tornando as atividades mais assertivas desde a captação do interesse do cliente até a concretização do negócio.

Em projetos, tenho observado iniciativas ainda isoladas, mas com boas perspectivas de serem a próxima disrupção no mercado. Em obras e manutenção de edifícios entendo que temos um mar de oportunidades. Vejo alguns profissionais se preparando pela internet em cursos, e nós iremos oferecer uma qualificação muito consistente na FEICON 2024 no Núcleo de Conteúdo da Construção by Inovatech.

 

3.Quais soluções tecnológicas são mais buscadas pelas empresas e profissionais do setor no Brasil. Por que?

Luiz Henrique Ferreira - Existe uma diferença grande entre uso intensivo de tecnologia e de inteligência artificial. O mercado brasileiro está caminhando rapidamente para a digitalização, seja em canteiros de obras com uso de tablets com modelos BIM no lugar de plantas, seja no processo de manuais de usuários e no emprego de BIM em projetos. Entretanto, quando falamos de inteligência artificial, o mercado ainda está iniciando no uso de ferramentas, ao meu ver ainda sem um caminho efetivamente consolidado. As startups estão gerando uma transformação muito grande na digitalização da construção, e creio que em breve surgirão cada vez mais ferramentas que ajudarão a aumentar a produtividade e qualidade do nosso setor, possibilitando entregar construções cada vez melhores para a nossa sociedade.

 

4.Como funciona a aplicação da IA nos projetos de construção civil e quais são as vantagens? E o custo benefício para as empresas do setor? 

Luiz Henrique Ferreira - Na construção civil a IA vem como uma aliada de produtividade, pois é possível inserir parâmetros urbanísticos e técnicos dentro de alguns softwares que conseguem fazer, em poucos segundos, milhares de alternativas de projeto através de correlações criadas pelos sistemas de inteligência artificial, ou seja, os projetistas conseguem ter muito mais opções para poderem escolher as melhores soluções.

A IA também permite que engenheiros calculistas possam estudar cenários que otimizem o volume de concreto das construções, ou mesmo que especialistas em instalações prediais analisem diversos caminhamentos de tubulações em pouquíssimo tempo. As vantagens, portanto, são um ganho gigantesco de produtividade e consequentemente de qualidade.

Em termos de custo x benefício, as ferramentas de IA possuem valores bem acessíveis, porém vejo algumas empresas cautelosas no investimento porque também se soma àquele destinado à mão de obra. É muito importante ressaltar que a IA não substitui as pessoas, na verdade ela torna os profissionais mais produtivos e eficientes. Existe um desafio importante que é capacitar colaboradores para que tenham espírito crítico e consigam analisar com responsabilidade os resultados gerados pela tecnologia, principalmente, porque em construção civil estamos falando de edificações que podem colocar em risco vidas, portanto a responsabilidade técnica nunca deve ser transmitida para os robôs.

A minha experiência com IA mostra que o “diálogo” com as máquinas precisa de cautela para que as respostas sejam coerentes, pois se o prompt for enviesado certamente a resposta será equivocada e pode ter consequências graves. 

 

5.Quais são as suas projeções para a construção civil nos próximos anos, considerando o emprego da inteligência artificial? Quais serão as tendências?

Luiz Henrique Ferreira - Eu acredito que a área de projetos passará por uma grande revolução aliando o uso intensivo do BIM com a IA, tendo um salto gigantesco de qualidade e produtividade. Também percebo que o setor de vendas e comercialização de imóveis sofrerá uma revolução em termos de assertividade e qualidade nos processos. Nos canteiros de obras, vejo oportunidades gigantescas na área de gestão da qualidade e planejamento, tornando os processos mais rápidos e ágeis. Enfim, como grande tendência, na minha opinião, o uso da IA maximizará a produtividade de tarefas operacionais e repetitivas, deixando os profissionais livres para fazerem o que sabem de melhor, que é dialogar e gerar integração na cadeia produtiva da construção.