Inovação na construção: o papel vital da industrialização

Por Renato Correia é presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC).

Crédito da imagem: CMC Modular

Certa feita, o jornalista Joelmir Beting proferiu: “modernizar não é sofisticar. Modernizar é simplificar”. Certamente o sociólogo não se referia à atividade econômica específica quando jogou luz ao conceito de inovação. Porém, nada mais atual para definir o processo iminente da indústria da construção.

Ainda permeado pela manufatura em muitas de suas atividades - ainda resistente por barreiras tributárias, em especial - a construção vem caminhando a passos largos na implementação de tecnologias em seus processos, moldando um cenário mais produtivo, competitivo, sustentável e otimizado.

A adoção de tecnologias disruptivas tem sido um dos principais impulsionadores da inovação na construção brasileira. BIM (Building Information Modeling), realidade virtual, inteligência artificial, metaverso e drones têm se destacado como ferramentas primordiais para melhorar a eficiência desde a fase de projeto, aumentar a precisão na execução da obra, a compreensão do cliente com relação ao produto final e facilitar sua manutenção.

A trilha da modernização, contudo, passa pela crescente industrialização do setor, revolucionando a maneira como os projetos são concebidos, desenvolvidos e executados. Pilar da inovação, a industrialização é o passo essencial para dar ritmo a toda essa cadência de desenvolvimento. A mudança do modelo tradicional de construção, baseado em métodos artesanais no canteiro de obras, para um processo mais industrializado, em que os componentes são fabricados na indústria e posteriormente montados no local, proporciona ganhos expressivos em termos de qualidade, segurança, eficácia e sustentabilidade.

Muitos países mundo afora já adotam soluções e métodos construtivos mais modernos e tecnológicos. O Brasil ainda encontra obstáculos estruturais como capacitação, cultura e regulação. Mas o principal desafio é a questão tributária, impedindo que o país avance com maior velocidade para essa racionalização da construção.

A industrialização não apenas impulsiona a eficiência operacional, mas também abraça a sustentabilidade e cria oportunidades para a capacitação de profissionais, uma vez que novas habilidades são necessárias para operar e manter equipamentos e processos mais avançados.

A preocupação crescente com o impacto ambiental tem impulsionado a adoção de soluções construtivas modernas que trazem a sustentabilidade em sua raiz. Sistemas avançados de gestão de resíduos, eficiência energética, infraestrutura verde e descarbonização são alguns dos conceitos já cravados nos métodos modernos e que podem colocar a construção brasileira em sintonia com as demandas globais de práticas construtivas sustentáveis.

Contudo, não há melhoria dos processos sem a industrialização, elemento transformador que pode tornar a indústria da construção mais atrativa tanto em avanços técnicos quanto em qualificação profissional. Industrializar o setor surge como um catalisador para superar barreiras como atração de mão de obra, informalidade, segurança e mecanização de processos. É uma mudança cultural para aumentar a produtividade e atrair cada vez mais profissionais para a missão de entregar moradias e infraestrutura urbana ao cidadão e que pode fortalecer a sociedade brasileira a enfrentar os desafios do século XXI.

Neste cenário dinâmico, a busca por eficiência, sustentabilidade e qualidade tem impulsionado a construção a repensar seus métodos tradicionais e buscar novas abordagens. A inovação na construção está intrinsecamente ligada à adoção de tecnologias disruptivas e, especialmente, à incorporação de processos industrializados.

Caminhar para uma indústria da construção 4.0 tem sido uma das principais bandeiras da CBIC. Mas há que se investir em pesquisa e desenvolvimento com mais pujança para atingir esse objetivo. Mais do que competitividade e eficiência, um setor industrializado vai resultar em mais empregos qualificados, melhor remuneração e realização profissional, maior responsabilidade ambiental e qualidade de vida às famílias brasileiras.