Construir sem água: um debate sobre a pegada hídrica (e a água da chuva como novo material)
Por Fabian Dejtiar | Traduzido por Julia Daudén | Via ArchDaily
Cava Arcari / David Chipperfield Architects. Imagem © Edmund Sumner
É possível construir edifícios usando menos água? O ArchDaily abriu o debate sobre o tema dos recursos hídricos na arquitetura durante todo o mês de junho, convidando os nossos leitores a participarem da discussão.
Os dados do uso global da água não são encorajadores e o mercado da construção tem uma grande participação no seu consumo. Está na hora de pensar em formas de reduzir esse impacto. A necessidade de projetar edifícios a partir dessa perspectiva nos proporciona uma oportunidade única para explorar alternativas inovadoras e sustentáveis que minimizem ou até mesmo eliminem completamente o uso de água na construção.
Depois de revisar uma quantidade imensa de comentários e opiniões, foi uma surpresa encontrar coincidências sobre o fato de que primeiro temos um desafio pendente: medir e conhecer realmente o consumo real de água de cada um dos projetos de arquitetura e entender como podemos enfrentar esse problema do ponto de vista construtivo e material.
Cava Arcari / David Chipperfield Architects. Imagem © Edmund Sumner
Qual é a pegada de água do seu projeto de arquitetura?
"É possível construir sem água, principalmente através do uso de materiais pré-fabricados, como perfis metálicos, madeira, painéis, entre outros... Mas não devemos esquecer de questionar qual é a pegada hídrica de cada material que estamos utilizando nos nossos projetos. Devemos fazer um balanço do consumo de água, tanto direto como indireto. Também do tipo de fonte hídrica, pois esse também é um fator importante a ser considerado, e de como é o seu retorno ao meio ambiente", escreve o arquiteto chileno Alexis Valverde.
A medição da quantidade de água utilizada na construção de um edifício geralmente é feita através de métodos de análise do ciclo de vida (ACV) e avaliações do impacto ambiental. Essas abordagens consideram o uso de água em todas as etapas do processo construtivo, desde a extração de materiais até a demolição do edifício, fornecendo uma perspectiva completa do consumo de água relacionado à construção. A quantidade de água utilizada nos materiais varia consideravelmente de acordo com o tipo e os métodos de produção específicos utilizados.
Cava Arcari / David Chipperfield Architects. Imagem © Edmund Sumner
Qual deveria ser o material predominante para reduzir o consumo de água?
"De volta às origens: use madeira", nos escreve a arquiteta mexicana Susana Bianconi. Do Chile, um arquiteto se aproxima comentando que definitivamente "a resposta mais lógica para essa pergunta é a madeira. Ela permite a construção de pequenas edificações e também de edifícios em altura através do uso de madeira laminada e CLT. No entanto, essa não é uma pergunta simples, já que, embora você pense em métodos sustentáveis, as fundações são um elemento mais complexo de combinar nessa equação, especialmente para edifícios de grandes dimensões".
Por outro lado, Juan Miguel Gutiérrez, também arquiteto mexicano, argumenta que "existem concretos que não utilizam água de primeira utilização ou que utilizaram uma água alternativa ou reciclada de outros processos. Também podemos encontrar concretos que reduzem drasticamente o uso de água no processo de cura (que é vital para o desenvolvimento de resistência frente ao impacto do clima). Da mesma forma, ao elaborar concretos estruturais, hoje são utilizados componentes que reduzem o consumo de água original sem perder propriedades de fluidez ou permanência durante o processo de colocação. Essas tecnologias estão ao alcance dos arquitetos e podem ser usadas em muitas cidades do país para reduzir os consumos de água tradicionais".
Cava Arcari / David Chipperfield Architects. Imagem © Edmund Sumner
A água da chuva pode ser considerada um novo material de construção?
"Não posso deixar de usar água na construção dos meus projetos, pois eles são feitos com técnicas de terra: adobes, taipa, blocos de terra comprimida e todas essas técnicas precisam de água para sua realização. O que posso fazer é coletar água da chuva e armazená-la para uso posterior, tanto no abastecimento de tanques de descarga de banheiros quanto para irrigação, ou limpeza de pisos, veículos, etc. A coleta de água da chuva pode ser feita tanto em telhados verdes, que também têm a capacidade de captá-la durante os períodos de chuva e ir drenando aos poucos, como também conduzi-la por calhas até um reservatório", escreve o arquiteto uruguaio Andrés Nogués.
Ao mesmo tempo, Verónica Rodríguez, arquiteta mexicana, comenta que em sua empresa, "armazenamos água da chuva e quando estou em obra faço o mesmo, armazenar; se não é época de chuva, então utilizo o que tenho armazenado e planejo antecipadamente o que vou utilizar para que não falte. Planejar para mim tem sido uma boa solução, gasto apenas o necessário". Isso nos abre a porta para pensar se deveríamos prestar mais atenção à água da chuva nos processos de construção (e até mesmo considerá-la como parte de um "novo" material de construção). O que você acha?
Este artigo é parte dos Temas do ArchDaily: Água e Arquitetura. Mensalmente, exploramos um tema em profundidade através de artigos, entrevistas, notícias e projetos de arquitetura. Convidamos você a conhecer mais sobre sobre os temas do ArchDaily. E, como sempre, o ArchDaily está aberto a contribuições de nossas leitoras e leitores; se você quiser enviar um artigo ou projeto, entre em contato.