O que é tecnologia da arquitetura e como ela está mudando a indústria?
Por Ankitha Gattupalli | Traduzido por Diogo Simões | Via ArchDaily
Crédito da imagem: ETH Zurich/ Concrete Choreography. Imagem © Benjamin Hofer
Profissionais das indústrias de arquitetura, engenharia e construção estão bem cientes dos problemas que afetam o ambiente construído. A indústria da construção civil ser a maior consumidora de materiais e também responsável por 40% de todas as emissões de carbono é um fato conhecido. O trabalho de construção também é um grande gerador de resíduos e poderia se beneficiar muito dos princípios do design circular. Quase três quartos de todos os projetos de construção tendem a exceder o orçamento, e quase metade dos gastos em edifícios são destinados às despesas gerais. Em um mundo acelerado com desafios multifacetados, a tecnologia e a digitalização buscam fornecer soluções significativas.
A indústria da construção tem se adaptado lentamente à onda de digitalização que se espalha por vários campos. Em 2015, a McKinsey publicou seu índice de digitalização e colocou a indústria de design e construção no fundo do progresso em direção à digitalização. A força de trabalho no setor da construção está envelhecendo, o aumento na demanda e a complexidade dos projeto são crescentes, e a produtividade dos funcionários está caindo. Mesmo com a relutância e a incerteza afligindo a indústria, um impulso digital está se intensificando.
O que é Tecnologia Arquitetônica?
ETH Zurich/ Concrete Choreography. Imagem © Axel Crettenand
Reconhecendo a importância de aproveitar a tecnologia na era digital, a tecnologia arquitetônica surgiu como um campo de estudo que examina como a tecnologia e o design interagem. A relativamente nova disciplina lida com a anatomia e fisiologia dos edifícios e sua produção e desempenho. No cruzamento entre design, engenharia e ciência, a tecnologia arquitetônica busca automatizar e aumentar o processo de design para acelerar a construção, apoiar a gestão e garantir alto desempenho de materiais, sistemas e estruturas. A digitalização do processo arquitetônico relaciona-se com produção, desempenho, sustentabilidade ambiental e eficiência econômica.
A tecnologia arquitetônica é uma disciplina vasta em si mesma. Atualmente, inovações como o Building Information Modelling (BIM), o design computacional, a fabricação robótica, a análise de desempenho de construções e a inteligência artificial dominam a disciplina. Vários tópicos de pesquisa estão em andamento, explorando um futuro em que a tecnologia é inerente ao processo de design.
O uso da tecnologia para alcançar a complexidade em formas arquitetônicas, melhorar a colaboração profissional e usar abordagens de design com custo efetivo são vantagens notáveis. As futuras aplicações precisarão lidar cada vez mais com grandes quantidades de dados complexos, prever modelos de design, considerar sistemas regenerativos e misturar a realidade aumentada com o mundo físico.
ETH Zurich/ Concrete Choreography. Imagem © Axel Crettenand
“À medida que as tecnologias se multiplicaram em número e complexidade, a profissão de construção começou a se fragmentar", escreve Stephen Emmitt, apontando para o início da nova disciplina em seu livro Architectural Technology: Research and Practice. Emmitt fala sobre a relação entre design e tecnologia, levando-a de volta à Revolução Industrial. A invenção de materiais de construção como o aço e o concreto armado, bem como acessórios mecânicos como elevadores, despertaram a influência da tecnologia na arquitetura do século XXI.
Alguns profissionais datam o nascimento da tecnologia arquitetônica das teorias de Vitrúvio sobre o tema. Sua classificação de tipologias de construção, estilos, materiais e técnicas de construção tiveram um impacto significativo no desenvolvimento de inúmeras disciplinas, como engenharia civil, engenharia estrutural, tecnologia arquitetônica e outras práticas.
Tijolo, pedra, madeira e aço eram os principais materiais de construção utilizados até o início do século XX. Os métodos de construção dependiam de mão de obra manual, ferramentas menos sofisticadas e materiais obtidos regionalmente. À medida que as metodologias de arquitetura avançam, é vital que haja uma mudança em direção ao design com tecnologia.
A Tecnologia está Mudando a Indústria da Arquitetura
Paredes que podem cultivar plantas. Imagem © Tom Daly
A tecnologia está mudando radicalmente a indústria AEC como a conhecemos. O design data-driven permitiu que os edifícios fossem construídos implementando dados do usuário e do contexto para alcançar métricas de desempenho de maneira eficiente. Essa abordagem permite que as estruturas sejam construídas com mais eficácia, que decisões sejam tomadas mais rapidamente e que os residentes sejam mais confortáveis. Os dados formam a espinha dorsal do processo de design da WeWork. Decisões sobre locais de novos edifícios, proximidade de serviços, sequência de construção e design de interiores são orientadas por informações adquiridas.
Além disso, os modelos de negócios, métodos de entrega e sistemas de comunicação arquitetônica tradicionais têm sido orientados para atender a requisitos específicos e entregas desatualizadas. Como resultado, os serviços arquitetônicos enfrentam dificuldades em escalabilidade, mantendo qualidade e cronogramas de projetos. Tecnologias como BIM e ferramentas de visualização se tornaram prática padrão na indústria. Em vez de alterar fundamentalmente o processo de design, elas aprimoram gradualmente os serviços e modelos de negócios de design atuais.
Realidade aumentada na construção. Imagem cortesia de Fologram
Embora milhares de novos modelos de negócios sejam possíveis, atualmente a indústria está notando uma significância em empreendimentos focados em fornecer edifícios como produtos sob demanda como WeWork e Katerra, ou Blockable e Wikihouse, que trazem processos de construção de ponta a ponta e criam um mercado de conhecimento para a indústria AEC - como Hypar e BuildX.
A tecnologia também está democratizando o design, tornando-o mais acessível. Ao automatizar e aumentar tarefas tradicionais no processo de design, os custos operacionais diminuem, permitindo que os serviços de design se tornem mais acessíveis. No futuro, os cidadãos podem ter o poder de influenciar o design e o planejamento urbano por meio de dados do usuário, revertendo o modelo de cima para baixo em que muitas cidades são construídas.
A tecnologia está alterando não apenas a indústria da arquitetura, mas também o papel de um arquiteto. Profissionais que estavam ocupados com design, desenho e detalhamento estão mais envolvidos no desempenho, produção e processos de construção. Os tecnólogos arquitetônicos possuem uma compreensão especializada que fundamenta o design de edifícios, relacionando-se tanto com o processo quanto com o produto final. Eles mesclam esforços entre o mundo do design e da engenharia, defendendo o pensamento holístico e unindo ideias conceituais com a execução do design.
WeWork Weihai Lu / Linehouse. Imagem © Jonathan Leijonhufvud
A tecnologia exige novas habilidades de várias disciplinas, como análise de dados, codificação e visualização. O papel do arquiteto se torna mais amplo, permitindo que eles colaborem com mais facilidade com indústrias de apoio. Dados e desempenho coexistem com intuição e criatividade no processo de design, graças às tecnologias. A digitalização ajuda a otimizar fluxos de trabalho tradicionais automatizando tarefas repetitivas e dividindo tarefas em especialidades. O design assim se envolve em todas as etapas do ciclo de vida da construção, não apenas no início.
À medida que a digitalização ocorre, a indústria caminha para um futuro onde dados de desempenho de todos os prédios estão disponíveis, o conhecimento profissional é de código aberto e codificado, e o design opera em plataformas interoperáveis. As pessoas que habitam o ambiente construído terão mais autoridade para influenciar os projetos de edifícios. Como resultado, os designers terão que se tornar mais proativos e usar um olho crítico para garantir que a arquitetura e o design permaneçam fiéis aos seus princípios. O próximo grande desafio da indústria da arquitetura é garantir que as tecnologias disruptivas permitam a criação de lugares e espaços para o bem público.