Neuroarquitetura e autismo: diretrizes para projetos saudáveis e acolhedores
Escrito por Ciro Férrer Herbster Albuquerque via ArchDaily
Foto © Emily Hagopian
O entendimento contemporâneo da neuroarquitetura desencadeou um novo foco no design inclusivo, com ênfase na criação de ambientes que respeitem e respondam às necessidades específicas das pessoas. Nesse contexto, a abordagem do design arquitetônico para pessoas no espectro do autismo ganhou destaque.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um conjunto de condições caracterizadas por algum grau de dificuldade no convívio social, na comunicação verbal e não verbal e interesses específicos por algumas atividades realizadas de forma repetitiva.
Projetar espaços que considerem as particularidades sensoriais e cognitivas dos indivíduos autistas é um passo crucial em direção à construção de um ambiente inclusivo e saudável para todos.
Foto © Emily Hagopian
Diretrizes para um projeto neurroresponsável
Sensibilidade sensorial: Indivíduos no espectro do autismo frequentemente experimentam sensibilidades sensoriais extremas. Portanto, minimizar estímulos excessivos, como luzes brilhantes ou ruídos altos, é fundamental. A incorporação de sistemas de iluminação ajustável e materiais acústicos pode criar ambientes mais confortáveis.
Espaços calmos: Criar espaços de refúgio e relaxamento é essencial. Esses espaços devem ser projetados para proporcionar uma sensação de segurança e tranquilidade, permitindo que os indivíduos se afastem de estímulos avassaladores quando necessário.
Layout intuitivo: O design do espaço deve ser intuitivo e organizado, minimizando confusões e facilitando a navegação. Sinalizações visuais claras e rotas de fuga visíveis são vitais para evitar ansiedade.
Foto © Todd Mason
Estímulos hiper e hipossensíveis: É crucial considerar as variações na sensibilidade sensorial. Alguns indivíduos podem ser hiperativos a estímulos como luzes fluorescentes, enquanto outros podem precisar de estímulos sensoriais para se envolverem com o ambiente. Incorporar opções de ajuste é essencial.
Tipologias de estímulos
Estímulos hipossensíveis: Pessoas no espectro do autismo podem ter uma sensibilidade reduzida a certos estímulos. Introduzir elementos de estimulação suave, como texturas reconfortantes, cores suaves e músicas calmantes, pode ajudar a criar uma atmosfera acolhedora.
Estímulos hiperestimulantes: Para algumas pessoas autistas, certos estímulos podem ser avassaladores. Evitar iluminação excessivamente brilhante, ruídos altos ou padrões visuais complexos é fundamental. Usar cores suaves e materiais acústicos ajuda a criar um ambiente mais tolerávaily
Foto © Emily Hagopian
Tipologias de espaços
Diversas tipologias de espaços podem ser adaptadas para atender às necessidades do autismo. Salas sensoriais, por exemplo, oferecem estímulos controlados que ajudam a regular as respostas sensoriais. Espaços de interação social, como áreas comunitárias e jardins sensoriais, incentivam a conexão e a comunicação. Áreas de refúgio fornecem locais tranquilos onde indivíduos podem se retirar para se acalmarem.
Desafios e oportunidades
Projetar para o autismo envolve desafios únicos, mas também apresenta oportunidades para inovação e criatividade. A neuroarquitetura destaca a importância da colaboração multidisciplinar, envolvendo arquitetos, neurocientistas, terapeutas ocupacionais e famílias. Através dessa colaboração, é possível criar ambientes que respeitem as necessidades individuais e promovam a inclusão.
Foto © Emily Hagopian
Impacto na saúde mental e na família
Um ambiente projetado com sensibilidade para o autismo não beneficia apenas o indivíduo autista, mas também sua família e cuidadores. Um ambiente que minimiza estressores sensoriais e oferece espaços de repouso e relaxamento pode reduzir a ansiedade tanto do autista quanto de sua família. Além disso, um design inclusivo pode promover a interação social e a conexão emocional, melhorando a qualidade de vida de todos os envolvidos.
Em conclusão, a neuroarquitetura tem o poder de criar espaços inclusivos e responsivos para pessoas no espectro do autismo. A compreensão das sensibilidades sensoriais e a aplicação de diretrizes específicas podem ajudar a criar ambientes que promovam a saúde mental e o bem-estar de indivíduos autistas e suas famílias. O design responsável transcende a funcionalidade física, buscando a criação de espaços que nutram o corpo, a mente e o espírito de todos os que os habitam.