Dia do Arquiteto e Urbanista: os desafios da profissão na atualidade
Por Chrys Hadrian e Publicado em Revista Casa e Jardim (15/12/2022)
Arquiteta e produtora de Casa e Jardim, Chrys Hadrian reflete sobre o cenário da arquitetura e do urbanismo, apontando os principais desafios e problemas que o profissional enfrenta atualmente
Em 15 de dezembro é celebrado o Dia do Arquiteto e Urbanista: uma das profissões mais antigas do mundo Divulgação / Pixabay
No dia 15 de dezembro é comemorado nacionalmente o Dia do Arquiteto e Urbanista em homenagem ao aniversário de Oscar Niemeyer (1907-2012). Para celebrar a data, vale entender a importância dessa ciência, os atuais problemas enfrentados por grande parte dos profissionais e, também, a necessidade deles para a construção de uma sociedade mais justa.
A história da Arquitetura
A história da arquitetura sempre ocorreu em paralelo com a da humanidade, desde as organizações espaciais e edificações de abrigos que usavam madeiras, barro, pedras e folhagens, até grandes construções com aço, tijolos, cimento, argamassa e concreto. Ela concentra períodos inteiros, que revelam, além dos métodos construtivos, a cultura e os valores defendidos pela sociedade da época.
A arquitetura é uma parte importante para entender a história da humanidade — Foto: Pixabay / TheDigitalArtist / mattiaverga / CreativeCommons | Montagem: Casa e Jardim
Enquanto algumas construções nos lembram de períodos de grandes investimentos nas artes e na ciência, outras nos fazem refletir sobre momentos históricos que jamais devemos voltar a repetir. É a ilustração concreta de como podemos evoluir e melhorar como indivíduos e sociedade.
Preservar a arquitetura é manter a história, pois reflete o estilo de vida de uma sociedade naquela determinada época — Foto: Pixabay / Anestiev / nguyendinhson067 / spalla67 / WaltiGoehner / CreativeCommons | Montagem: Casa e Jardim
Arquitetura enquanto patrimônio
No Brasil, precisamos ainda evoluir mais a cultura solidificada de proteção aos nossos patrimônios culturais, mas já podemos perceber pequenos avanços na questão de valorização da arquitetura e do urbanismo, principalmente no âmbito público.
É possível observar um crescente interesse em visitar museus, parques e obras de arquitetos consagrados nacionalmente. Dentre eles, podemos citar alguns nomes como Oscar Niemeyer, Lina Bo Bardi, Paulo Mendes da Rocha, Lota de Macedo Soares, Vilanova Artigas, Rino Levi, Affonso Reidy, Carmen Portinho, Rosa Grena Kliass, Lúcio Costa, Roberto Burle Marx e Ruy Ohtake.
Graças a eles e a tantos outros, temos espaços projetados para atender as necessidades dos indivíduos, mas, também, fica registrada em suas obras a história moderna e contemporânea brasileira.
Palácio da Alvorada, em Brasília, projetado por Oscar Niemeyer em 1958 — Foto: Chrys Hadrian / Casa e Jardim
A desvalorização profissional
Uma profissão que engloba conhecimentos das ciências humanas, exatas e biológicas, deveria ser considerada de prestígio, mas, infelizmente, não é o que ocorre sempre. Aprendemos filosofia para entender a estética e a ética, sociologia e geografia para compreender as cidades e os seus diferentes agentes transformadores, estudamos sobre tipos de plantas e solos – da topografia à cartografia, da física e geometria.
Somos apresentados a temas ligados a psicologia e como certos ambientes, cores e luzes impactam o comportamento dos usuários. Entendemos de ergonomia, de acessibilidade, preservação, restauração, sustentabilidade e também das leis e normas necessárias para construir desde um quarto até cidades inteiras.
Desenvolvemos desenhos livres e técnicos e estamos sempre nos atualizando em softwares que possam nos auxiliar em nossas funções, mantendo-nos a par de tudo o que é novidade. Como uma profissão com um leque tão grande de conhecimento e tamanha importância, pode ter condições de trabalho, as vezes, decadentes?
Depoimento anônimo compartilhado pelo perfil @xposedarquitetos_br no Instagram — Foto: Reprodução / Instagram
Quando saímos da faculdade, enfrentamos uma realidade onde se contratam estagiários com conhecimentos de um arquiteto formado e arquitetos formados trocando de profissão por não conseguirem trabalho fixo ou que proporcione boa remuneração.
Poucos são aqueles que conseguem prosperar em um mercado tão competitivo e saturado sem antes ter algum tipo de apoio financeiro. Já os que resolvem permanecer na academia e contribuir com a ciência, tem remunerações irrisórias pelas suas pesquisas, mesmo que o resultado delas seja benéfico ao país e mundo (um problema que não se limita apenas à Arquitetura).
Além dos obstáculos citados, há também a falta de aproximação do profissional com a população. Em conversa com a arquiteta e urbanista Stephanie Ribeiro, apresentadora do canal GNT, a fase atual do mercado complica ainda mais essa conexão entre ambas as partes.
"Estamos todos em uma fase complexa do mercado, onde muitas pessoas ainda não entendem o papel do arquiteto e ignoram que, apesar de terem um feeling, o profissional é essencial. Acho que do outro lado também temos arquitetos tentando entender seu lugar no segmento e como podem tornar seu trabalho mais acessível sem uma desvalorização", comenta a profissional.
A arquitetura e o urbanismo devem alcançar todas as classes sociais — Foto: Pixabay / Milo Miloezger / CreativeCommons
Para o arquiteto e urbanista João Sette Whitaker, atual diretor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (USP), o mercado da arquitetura, atualmente, dentro do campo da construção civil, ainda é muito restrito por não ser valorizado o suficiente como profissão.
"O grande desafio do segmento é ele se abrir para além daquilo que costumamos chamar 'mercado formal', ou seja, é incorporarmos definitivamente que temos uma enorme deficiência arquitetônica e urbana no Brasil em função da segregação e desigualdade, que, na verdade, a Arquitetura e o Urbanismo têm um enorme desafio de enfrentar a mudança necessária das cidades brasileiras, levando qualidade para todos os setores excluídos", reflete Whitkaer.
O arquiteto ainda complementa, falando sobre o desafio das escolas de Arquitetura, em: "conseguir valorizar e potencializar esse mercado gigantesco, onde as pessoas não conseguem enxergar como trabalho para profissão, e é o que mais demanda uma transformação."
É importante entender que a razão pela desvalorização não vem da população sem acesso a esse mercado e, sim, da elitização e segregação desses serviços, além da falta de conhecimento do papel do arquiteto e urbanista, sendo mais do que projetar uma casa. Por viver nesse dilema entre má remuneração e grande parte da população necessitando de ajuda, é que precisamos do respaldo de políticas públicas para conseguir atender a quem precisa.
Necessitamos também de uma maior regularização de salários por parte dos Conselhos e Sindicatos, além de uma definição mais exata e justa das funções de cada nível de experiência. É incabível permanecer em um mercado que contrata estagiários por um valor baixo, mas que exige conhecimentos de um arquiteto formado.
Nós, arquitetos e urbanistas, precisamos, além de entender a importância do nosso próprio papel, agir e exigir que essas mudanças ocorram para que a nossa profissão seja valorizada e reconhecida.
HADRIAN, Chrys. Dia do Arquiteto e Urbanista: os desafios da profissão na atualidade. Revista Casa e Jardim, dez. 2022. Disponível em: https://revistacasaejardim.globo.com/arquitetura/noticia/2022/12/dia-do-arquiteto-e-urbanista-os-desafios-da-profissao-na-atualidade.ghtml. Acesso em: 15 dez. 2022.